Obras decorrentes de histórias ou histórias decorrentes de obras. As narrativas são uma forma de desenho que usa como suporte o tempo imaginado e apresenta no tempo vivido um testemunho ou uma cena que comprova aquela história

Por encomenda do Ministério da Cultura e do Instituto Itaú Cultural alguns artistas produziram esculturas públicas a serem expostas na Avenida Paulista durante o “dia da cultura” em São Paulo. Tunga realizou “100 rede”. Cem figurantes foram recrutados. Vestiam boné, camiseta branca com uma folha numerada pregada nas costas. Cada um carregava um carrinho de feira. Dentro dele tinha uma rede, um conjunto de utensílios de cozinha em alumínio, um fogareiro, água e areia. Embrulhado em papel alumínio, perolas, grãos de milho e um enorme osso. Uma galinha viva ficava presa no primeiro compartimento do carrinho. Na época comentava-se a respeito da façanha econômica do País de se poder comprar frango a 1 real.

Em grupos de 5 ou 10 manifestantes todos foram caminhando para o local da cerimonia oficial de lançamento do projeto, com a presença das autoridades políticas. Antes da cerimonia terminar, todos os 100 integrantes saíram do local para se alojar com suas redes a 150 metros do local. A calçada já estava preparada para a fixação dos suportes de rede. O movimento daquela pequena multidão no meio da cerimonia divide a atenção de todos inclusive da imprensa que opta por abandonar a cerimonia e acompanhar os flagelados. Depois de armadas as redes, começam a usar os fogareiros e cozinhar um tipo de sopa. A ocupação do espaço com os homens cercados pelos meios de sobrevivência despertava curiosidade. A indiferença destes homens performáticos atraíram ainda mais a atenção. Aquela era uma espécie de manifestação indolente. Um manifesto na forma de ócio. Quando interpelados por passante, os homens liam o poema “A pomba e a fênix”.

Conjunto de 100 de cada: carrinhos de comprar, redes, galinhas, ossos, conjuntos de recipientes de alumínio; e 100 homens, perolas, areia, grãos de milho e papel alumínio.

Avenida Paulista, em frente ao Centro Cultural Santa Catarina, no “Dia da Cultura”, Instituto Itaú Cultural e Ministério da Cultura, São Paulo 1997.