Obras decorrentes de histórias ou histórias decorrentes de obras. As narrativas são uma forma de desenho que usa como suporte o tempo imaginado e apresenta no tempo vivido um testemunho ou uma cena que comprova aquela história.
Rio de Janeiro, um coletivo de jovens artistas ocupa uma casa desapropriada em região pobre do Rio de Janeiro, criando o evento “Orlândia” - organizado por Márcia X e Ricardo Ventura. Tunga foi convidado a propor um trabalho. Sua resposta foi construir uma parede modelada com gesso, incorporando ao gesso materiais orgânicos, escolhidos dentro de uma simbologia cristã, vinho, peixe salgado e pão – daí o título “pequeno milagre”. Na parede, montada em diagonal, foram instalados dois microfones, um de cada lado da parede. Os poetas Simon Lane , Gerardo Mello Mourão (pai de Tunga) , o artista plástico Cabelo e Marieta Dantas foram convidados para debater junto à parede. Quem falava de um lado não escutava o outro falando do outro lado do muro. E assim as discussões teológicas se desenvolviam ao mesmo tempo em que Tunga encharcava o muro de vinho e quebrava as garrafas no chão. O som das discussões, somado ao quebrar de garrafas, era reproduzido por uma caixa de som instalada a poucos metros dali.
No segundo dia os peixes tinham se estragado e a parede foi invadida por larvas e gatos conversavam com gatos. Os visitantes eram tentados, mesmo incomodados com o odor, a cruzar a sala até o fim do muro para ver o outro lado. Referências a Duchamp e ao filme Stalker de Tarkóvski apareciam quando alguém imaginava que naquele território proibido, o espectador poderia entrar na vida de outra pessoa.